Rede Matogrossensse de Hip Hop

24.7.07

Invasão Hip Hop

Fonte: OVERMUNDO
Cezza,disposição e atitude.
Cézar Mendes, Cezza, um cara resistente, indo fundo em seus propósitos nesse Brasilzão, aqui, do Matão, da periferia de Cuiabá, mais precisamente do bairro Tijucal, região sul, lugar que tinha muito tijuco, barro, em cuiabanês: "tchidjuco", daí o nome; habitado inicialmente pelos guerreiros da etnia Coxiponés, hoje é foco de um dos vários sub movimentos hip hop que se espalham pela cidade. Cezza, como prefere ser chamado, é um cara simples, humilde e batalhador. Trabalha muito para manter de pé um projeto de vida que abraçou desde o início da década de 90. Conta que naquela época a situação era muito complicada, as pessoas olhavam com desconfiança aquele modo de vestir, falar, protestar, associavam com violência, marginalidade, coisas de vagabundos. Ao lado de Guil, Espinha, Haroldo e Edson Charles, Cezza formou, em 1992, o grupo Revoluções MCs que começou toda a história do hip hop em Cuiabá.



Logo no início já buscaram interiorizar suas ações levando o hip hop e seus 4 elementos, break, rap, dj e o grafite para outras cidades de Mato Grosso como Sinop, Sorriso, Nova Mutum, Barra do Garças, Rondonópolis, difundindo essa forma de cultura, criando núcleos atuantes, fomentando o surgimento de uma cena em âmbito estadual. Viajavam de carona ou de busão, realizavam shows, debates, encontros, oficinas, buscavam "criar um ambiente para que um movimento acontecesse". De passo em passo, em 1996, viraram MT Rappers, preservando a mesma formação. Cezza diz que nunca deixaram de acreditar na evolução daquele trabalho: "sempre levamos a dança, a música, a palavra, o grafite, nossa ideologia, conhecimento e esperança para as comunidades, para as pessoas que estão à mercê da dura vida. Sempre fazendo o trabalho que o hip hop tem que fazer para as comunidades" .



Em 1999, mesma formação e novo nome, o grupo virou Testemunhas da Morte , foi quando iniciaram um trabalho para fora do Estado, foram à luta, viajaram para Brasília no ano de 2000, participaram do Abril Pro Rap, depois São Paulo, participaram do evento Batalha do Ano em 2001, 2002 e 2004, fizeram contato com o organizador Ronei Iôiô e as coisas se ampliaram: "Eles viam Mato Grosso como mato, achavam que aqui só tinha bichos e mato. Depois da demonstração que fizemos é que passaram a ter outra visão, que aqui tinha gente qualificada fazendo hip hop. Fizemos belas performances na Batalha e conquistamos o respeito da galera.



"Os apoios foram surgindo em pequenas proporções, na medida em que conquistavam espaços na mídia, com trabalho e persistência, mostrando que o que faziam era pra valer. Daí começaram a ser vistos como expressão legítima da cultura urbana que emergia em Cuiabá: "Atualmente as coisas mudaram muito. Os empresários e alguns segmentos do poder público estão começando a apoiar algumas organizações do hip hop aqui de Cuiabá. Acredito que seja pelo fato do movimento ter crescido em todo o Brasil, isso repercutiu aqui também. Sempre botei fé que o hip hop viraria, que seria um movimento de revolução, de evolução das comunidades periféricas, de encaminhamento para a inclusão social." Cezza começou aos 16, com 30 agora vê novas perspectivas para o movimento que vem se organizando bastante por aqui. Mas as dificuldades não cessaram. Atualmente ele faz parte da Organização Hip Hop MT que atua fortemente para a formação de meninos e meninas na periferia cuiabana. Eles fazem parte dessa luta com muita garra, acreditam numa sociedade melhor e trabalham para que isso se torne realidade.



Cezza está coordenando o projeto invasão hiphop que leva a dança de rua em oficinas pelos bairros Coxipó, Pedra Noventa e Tijucal. São 80 jovens envolvidos: "Os resultados são fantásticos, os meninos e as meninas já estão desenvolvendo coreografias e performances. Nunca vou parar de lutar para transformar a realidade das pessoas que vivem em alto risco, dando uma direção legal para suas vidas, tornando-as agentes culturais, para que possam ajudar a construir uma nova sociedade."O projeto invasão hiphop foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura de Cuiabá. Está com uma carta de crédito na mão. Nenhuma empresa ainda se dispôs a patrocinar o projeto. Ele não desiste: "Os meninos e as meninas têm esperança de que o projeto seja um passaporte para uma vida melhor." Se despede, vai embora. Seus passos seguem pelas escaldantes ruas cuiabanas no ritmo da dança da vida.