Rede Matogrossensse de Hip Hop

30.8.07

Voz e a Vez do Sem Esperança

Nascido nos guetos americanos com influência negra e latina , a cultura Hip Hop, entendida aqui como a união de 4 elementos que são eles a musica rap, a dança break, a expressão visual do grafite e arte do disc jockei, se materializou como uma forma de resistência e luta da juventude contra a violência policial, discriminação racial, desemprego, a falta de perspectiva e drogas, mazelas que são conseqüências do capitalismo.

Essa cultura tornou-se na prática o grito de revolta dos que nunca tiveram vez nem voz, a esperança dos sem esperança.
Desde os guetos negros dos EUA, às periferias do Chile, aos imigrantes nos subúrbios europeus, às favelas do Brasil, essa cultura se tornou a expressão da juventude oprimida dos 4 cantos do mundo.
Com o avanço do desenvolvimento do sistema capitalista, materializado nos últimos 20 anos pela globalização neoliberal (privatização, exclusão social, desemprego, falência do serviço público, fome,etc) cresceu também a cultura Hip Hop como veiculo de denúncia dessas injustiças.
A cultura Hip Hop é antes de tudo o cantar, o dançar, a expressão visual, a produção cultural que expressa a realidade social que a maioria da juventude vivência.
E não é por acaso que a cultura Hip Hop tem como centro de irradiação e popularidade nos Estados Unidos, o maior centro do desenvolvimento capitalista do mundo.
A cultura Hip Hop, apesar da abordagem social, é também uma produção cultural relevante, talvez a maior no seio da classe trabalhadora. São milhares de jovens produzindo arte e cultura pelos subúrbios, mundo afora. São jovens que produzem suas batidas de forma caseira; ocupam praças para fazer suas rodas de break; ocupam os espaços sem vidas com as cores do grafite. São milhares de escritores anônimos falando sobre a realidade em que vivem.
Apesar de todo esse sentimento de denúncia e descontentamento, e não se consolidar apenas como mais um modismo, a cultura Hip Hop nunca se materializou como movimento social organizado. É no eixo da produção cultural que ela se massifica, do ponto de vista qualitativo e quantitativo.
A dança break passou a fazer parte de filmes, de comerciais, de pistas de dança, invadiu os palcos dos principais teatros. O dj passou a ser um fenômeno musical, e não mais específico da cultura Hip Hop. O rap se tornou um dos estilos musicais mais ouvidos e vendidos de todo o planeta, participando da trilhas sonoras dos filmes, de programas de tv. É lider de audiências nas rádios. O grafite já faz parte da vida das grandes galerias de arte do mundo e por aí vai...
A partir dessa massificação a industria cultural, em particular a industria porno-fonográfica e todo o seu aparato (radio, mídia escrita e televisada, etc) inclui o Hip Hop, principalmente o rap, como elemento a ser produzido e comercializado pelo mercado. Esse que era até então uma manifestação espontânea da juventude explorada, discriminada e excluída pelo sistema.
Nessa etapa temos um nova realidade: a cultura Hip Hop incluída dentro do modelo de produção e consumo do sistema capitalista, onde o dinheiro, a apologia às drogas, às armas, o sonho de gravar um disco e se tornar um grande pop star, a vulgarização da figura feminina, passam a ser a política da industria cultural do sistema para esse setor.
O Sistema te oferece dinheiro, começa com calma, contamina seu caráter e rouba sua alma, depois te joga na merda sozinho. (Racionais Mc’s)
São bilhões de dólares faturados pelas empresas como SONY, BMG, EMI. A musica rap bate todos os recorde de venda no mercado porno-fonográfico americano, antes ocupado pelo rock.
Há tempos que o rap ocupa os primeiros lugares nas premiações da MTV, e com isso ela ganha com o investimento dos anunciantes.
Empresas como Adidas, Nike, Siemens, Pionee, Technics, Coca-cola, Mercedes Benz, lucram através da publicidade feita via Hip Hop.
Essa nova etapa do mercado traz duas conseqüências: tenta neutralizar a resistência que a cultura hip hop ainda possui e acumula capital na mão das empresas multinacionais que dominam a indústria cultural.
Como não é um movimento politicamente organizado, a cultura hip hop não foi capaz de enfrentar esses novos desafios e talvez não será.
Para isso eles criaram as pré condições, para essa etapa de expansão da acumulação capitalista através da indústria cultural.
Aí é que vemos a relação entre flexibilização do mercado e avanço tecnológico, pois nada disso seria possível sem a fibra óptica, sem a tecnologia dos satélites, indústria cinematográfica, o crescimento das tecnologia de produção musical, e etc. Como vemos o capital não dá ponto sem nó.
Já em conseqüência da intervenção do mercado, começamos a sentir os primeiros sintomas. Começa a prevalecer a música pela musica. O rap sexista que vende milhões às custas da mercatilizaçao da mulher. Cada vez mais cresce o rap que faz a apologia às drogas, enfim o rap sem compromisso social e isso tem reflexo no nosso local.
E o que consolidou essa referencia dentro da cultura Hip Hop foi o que o mercado batizou como “gangster rap”.
O desenvolvimento desse mercado do Hip Hop, propicia à nível local toda uma filosofia de acumulação de capital (consultoria, produtores, gravadoras particulares, grifes, etc), acabam reproduzindo a lógica do sistema em menor escala: são os empresários do Hip Hop, em grande escala materializado em São Paulo.
E não se trata aqui, na realidade somente de um discurso político, pois queremos a liberdade de criação e produção artística. Queremos a autonomia verdadeira dos que produzem a arte e a cultural.
Mas não existe liberdade quando essa produção é dirigida pela Globo, MTV, Sbt, Sony e outras. Ou seja, não existe liberdade de produção cultural quando é o mercado que dita as regras do que deve e como deve ser produzido e consumido.
Nesse caso, ser independente não é romper com esse modelo para que alguns se mantenham dentro desse modelo, mas é garantir um outro modelo em que o lucro não esteja acima da cultura e da vida, mas que o lucro ou seja aute gestionado entre nós ou daremos adeus o que resta de resistência.
Apesar de já sentirmos esse Hip Hop de mercado se materializando, ainda se mantem na periferias, nas favelas, do Brasil o sentimento de denúncia das injustiças do sistema.
Esse realidade coloca para o Hip Hop brasileiro duas alternativas: ser engolidos por essa indústria, perdidos no discurso do crime pelo crime, apalogia a ignorância pol[itica, o oportunismo de ultima hora de alguns e mais miséria na favela. Ou na pior das hipóteses se reproduzira aqui o que aconteceu lá fora com os gringos. Hoje isso já já se materializa na participação de grupos na Rede globo, em gravadoras multinacionais, na MTV, na parceria com empresas que nem de perto visam fortalecer a cultura hiphop, e etc.ou do Hip Hop como movimento social organizado.
O MELHOR AMIGO DO POVO É O POVO ORGANIZADO
Nós do MCR (Movimento Hip Hop Cultura de Rua do Ceará) optamos por um caminho, que embora seja mais difícil, tem nos mostrado na prática ser uma alternativa a esse Hip Hop mercado.

Entendemos que para garantir nossa autonomia e nossa sobrevivência é necessário que a cultura Hip Hop seja possibilidade concreta de organização e formação da juventude da periferia.

Por isso, é de fundamental importância a organização das posses (núcleos=assentamentos), do trabalho local, das atividades nos bairros se envolvendo na vida política, social, cultural e outras vertentes da comunidade onde moramos.

A organização da juventude na periferia será a única saída para podermos distribuir nosso discos, nossa roupas. Somente a juventude da periferia organizada politicamente será capaz de superar essa crise que passa o Hip Hop brasileiro.

Essa organização tem como objetivo principal possibilitar que outros jovens possam através da produção cultural lutar contra esse sistema que condena a juventude da periferia ao crime, às prisões e à morte.

Essa produção cultural tem que ser fortalecida para o publico local e não para o mercado, para a democratização do conhecimento e do saber, da cultura.

Aqui no Ceará, desenvolvemos como muita dificuldade, o projeto chamado Fala Favela, que tem como princípios a autogestão, cultura, ecologia, e tem como tarefa principal organizar a juventude da periferia em um amplo movimento social.
Nós do MCR, temos a nossa gravadora/estúdio SUBVERSOM, onde produzimos de forma coletiva a musica da juventude da periferia.

A TV CULTURA DE RUA é uma produtora onde produzimos nossos vídeos clipes e vídeos da comunidade.

É no Jornal Cultura de Rua onde fazemos a comunicação, formação dos jovens e divulgamos a ideologia do nosso movimento.

Os programas em rádios comunitárias são produzidos e sustentados pelas nossas posses (núcleos=assentamento)

Temos que construir e utilizar de forma coletiva , estúdio para produção musical, tv de rua, rádios comunitárias, para construir um contra-poder e uma nova lógica que consiga resgatar a solidariedade e auto-estima do nosso povo.

Ë necessário que essa nova forma de entender e fazer Hip Hop esteja aliada a outros movimento como MST, Comitês Contra ALCA, Sem Tetos, População de Rua, Contra os “Alimentos” Transgênicos, etc) que embora não vistam calça larga nem usem boné, ou ate mesmo nem curtam rap, estão em sintonia com a luta pela libertação do nosso povo.

Temos como inspiração para essa nova caminhada, a luta dos pretos, dos pobres, dos indígenas, das mulheres, dos camponeses, enfim a luta dos explorados(as) e oprimidos(as) pela liberdade durante esses 500 anos de Brasil.

Essas ferramentas são para semear novos valores, para fortalecer a organização do povo na luta anticapitalista, pois acreditamos que O MELHOR AMIGO DO POVO É O POVO ORGANIZADO.
PRETO ZEZE é rapper do grupo Comunidade da Rima

Coordenador Geral do Movimento Hip Hop Cultura de Rua do Ceará

MEMBRO DA COORDENAÇAO NACIONAL DA RED BRASILEIRA DE HIP HOP

Sim a Vida Não A ALCA E OMC!!!.

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